terça-feira, 22 de junho de 2010

baquetas

saquei que tinha acabado de tocar o tambor depois de uns bons minutos, e no hiato que procedeu a pausa parece que a gritaria disforme uniformizou a falta de ritmo de umas heterogêneas percussões, mas eu não pensava em nada disso. sacava na cor do chão, na cor de um por um passando e na alegria que era de não ir pra lugar nenhum, estar na roda, sem tempo, sem prazo, sem talas, sem pressa, sem prender, sem soltar, sem pender. era a festa, era um gol.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

outras bandeiras

sonhei que sonhava a esmo, mas preocupado, pelas ruas de Fortaleza. queria ter de tudo, mas meu tempo de brincar tinha ido embora. agora, perdia o fio da segurança entre os papéis de São João. sumido também o fio que me amarrava às ruas dali e às outras, do Maranhão.

mar de geraçõesfoto: mário borba

quinta-feira, 4 de março de 2010

o Grande e a reprodução interminável

o Grande andava como um torto na muvuca da festa natural, em plena pipoca de um trio elétrico do segundo dia de carnaval soteropolitano. os trios sempre pareceram ligados num fio reprodutor interminável que se estende parindo tendências de novos fios condutores que se prolongam no além-bahia. nesse rumor reproduzido imbricam manifestações tropicando samba-reggaes e axés, que a sociedade, do/no asfalto, espelha gastando o salto. o Grande sabia de cor as formações, as raízes e os cantos de cada uma das coxas que guiavam aquelas marchas. sabia ler isso e via a possibilidade de com outros grandes encabeçar uma redescoberta das mesmas coisas, uma reprodução do reproduzido por outra leitura, algo que refaça uma nova Bahia, e dela, novos Brasis. E em tudo isso não estaria só a viagem da redescoberta, de retorno a um conjunto efetivo de genealogias, mas algo pra produzir uns novos sujeitos, algo a nos [re]produzir, a nós, de novo e de novo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

momentos e contextos . “unheimlicheit”

não podemos jamais ir pra casa, voltar à cena primária enquanto momento esquecido de nossos começos de “autenticidade”, pois há sempre algo no meio. não podemos retornar a uma unidade passada, pois só podemos conhecer o passado, a memória, o inconsciente, através de seus efeitos, isto é, quando este é trazido para dentro da linguagem, e de lá embarcamos numa (interminável) viagem. diante da “floresta de signos” (baudelaire), nos encontramos sempre na encruzilhada, com nossas histórias e memórias (as “relíquias secularizadas”, como bejamin, o colecionador, as descreve) ao mesmo tempo em que esquadrinhamos a constelação cheia de tensão que se estende diante de nós, buscando a linguagem, o estilo, que vai dominar o movimento e dar-lhe forma. talvez seja mais uma questão de buscar estar em casa aqui, no único momento e contexto que temos… apuds. Chambers. Hall.