olhando para o chão, bebendo vinho, vendo os quadrados dos ladrilhos se moverem devagar. a batida do relógio da parede, embalando, distante, a rotineira nostalgia. sem cristais líquidos, sempre a mesma, a hora certa, nos inebriantes tic-tacs e peiiins. ele pode receber todas as palavras novas, mas ninguém mais lembra do que todos diziam quando um relógio foi fixado na parede. as crianças brincando na varanda e o velho constatando que está torto. ninguém mantém vivo na memória como ele, cuidadosamente embalado toda noite, o sorriso no rosto do tio entrando na casa com aquela caixa de madeira envernizada, o pêndulo dourado, tic, a zoeira de sempre, casa cheia, tac, o cheiro da carne da cozinha, tic. tac. na parede. dezenas trabalham na mesma terra de antes, aradores, cavando, sem mensurar quanto vale cada parte disso. dentre os peões: “fogo?”. lá de cima da torre de observação o encarregado acendia um cigarro de palha, e o sol baixando, guardava a vista de mulheres que iam e vinham, descalças. alguns baldes. lá longe um gato cinza grunhiu exatamente depois que o velho relógio, de dentro da casa, badalou as sete horas da tarde.
domingo, 7 de dezembro de 2008
Números
A rua era bem maior do que a descrição gestual dela fez parecer – no final da que tem um canteiro no meio, a direita. Na casa amarela; esquerda. Nem sinal de casa amarela, se a noite não pintou a dos telhados–de-cabana de bege.
Quase na hora de dar meia-volta – metade por medo, metade culpando a noite ou a má informação – na ampla e última vista, ela, a casa amarela. Na casa amarela, esquerda. No fim da rua, a casa da porta com o número, a casa de número na porta. Era... Provavelmente única com seu número na porta, não importa o número.
Quase na hora de dar meia-volta – metade por medo, metade culpando a noite ou a má informação – na ampla e última vista, ela, a casa amarela. Na casa amarela, esquerda. No fim da rua, a casa da porta com o número, a casa de número na porta. Era... Provavelmente única com seu número na porta, não importa o número.
O que significava querer ouvir? Dizem uma porção de coisas que não se compra, querer abrir uma porta e ouvir: pensar, negar ou dizer sim. Uma decisão ou nada; outras coisas acontecendo. A porta destrancada, a ousadia de conceber um ”entre”, embora só uma pessoa fale, muito ouvintes – “...cada gesto ou sotaque nosso é uma negação do antigo. Preenchemos silêncios com nossos próprios desejos, medos e fantasias. Não importa como o mundo nos pareça vazio, nossa história somos nós mesmos e são coisas que a linguagem comum não pode dizer. Então isso que acontece, a arte, uma micro-sociedade subversiva, a arte não foi um objetivo, mas a ocasião e o método para localizar nosso ritmo específico e possibilidades enterradas em nossa época. A aventura de encontrar e perder, nós os agitados, os inaceitáveis, continuamos procurando, preenchendo silêncios com os nosso próprios desejos, medos e fantasias. Levados pelo fato de que não importa o quanto o mundo nos pareça degradante e ousado sabíamos que nada é ainda possível e dadas as circunstâncias: um novo mundo será provavelmente como o antigo...”;
-Tu é amigo da Mônica?
Balelas... Vira as costas grosseiramente e deixa o recinto. Não, não foi a Mônica que fez os gestos, com certeza haverão outras casas com número na porta.
-Tu é amigo da Mônica?
Balelas... Vira as costas grosseiramente e deixa o recinto. Não, não foi a Mônica que fez os gestos, com certeza haverão outras casas com número na porta.
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