domingo, 7 de dezembro de 2008

horas

olhando para o chão, bebendo vinho, vendo os quadrados dos ladrilhos se moverem devagar. a batida do relógio da parede, embalando, distante, a rotineira nostalgia. sem cristais líquidos, sempre a mesma, a hora certa, nos inebriantes tic-tacs e peiiins. ele pode receber todas as palavras novas, mas ninguém mais lembra do que todos diziam quando um relógio foi fixado na parede. as crianças brincando na varanda e o velho constatando que está torto. ninguém mantém vivo na memória como ele, cuidadosamente embalado toda noite, o sorriso no rosto do tio entrando na casa com aquela caixa de madeira envernizada, o pêndulo dourado, tic, a zoeira de sempre, casa cheia, tac, o cheiro da carne da cozinha, tic. tac. na parede. dezenas trabalham na mesma terra de antes, aradores, cavando, sem mensurar quanto vale cada parte disso. dentre os peões: “fogo?”. lá de cima da torre de observação o encarregado acendia um cigarro de palha, e o sol baixando, guardava a vista de mulheres que iam e vinham, descalças. alguns baldes. lá longe um gato cinza grunhiu exatamente depois que o velho relógio, de dentro da casa, badalou as sete horas da tarde.

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