quinta-feira, 11 de outubro de 2007

as buzinas contra a vida mais garrida















“Preciso saber urgentemente:

por que é proibido pisar na grama?”

Jorge Ben


a vida mais garrida
passaram-se três dias numa casa-cúpula afastada o suficiente de toda doença da oferta. foram os três primeiros dias colhendo bobas maçãs e bergamotas, o esforço de valorizar a experiência e esquecer do resto. porque mesmo numa fuga, o tempo é curto. a satisfação de realizar uma utopia infantil em pouco tempo, e ainda não querer pensar no resto. e ah... os sopros, é o que ela mais faz. ela sim: levou dois dias e entrou em sintonia com o verde, com ela mesma e finalmente com os sopros. transcendeu despreocupada sem notar ou pensar, transcendeu qualquer coisa. agora deu pra soprar melodias que desde o início pareceram sinceras, expressivas e irregistráveis; comoventes pela intensidade de uma beleza que floresce, explode e se extingue sem que mude nada, sem que destoe do resto, mas totalmente nova e diferente. depois... agora: outono caindo seco. acordes e notas compassadas, passadas e registradas; são os trechos pra prosperidade, que já ganha ar de lembrança, o que está sendo rabiscado na vã tentativa de acompanhar a criação, ou na ânsia de oferecer mais sentido. toda música surgindo úmida e sozinha do leite em pó às bergamotas, de noite, é tão válida quanto a reflexão registrada dessa experiência. isso que é vida. e é preciso que chova o quinto dia inteiro, é preciso mais contato, menos exposição e deslumbramento, pra entender melhor o que há de transcendental nessa viagem que se extinguirá dos registros mas que marca sem mensura.
as buzinas
essa viajante cultura emergente banalizada em desenvolvimento sustentável pelos relações públicas, inserida num programa publicitário de votos, preocupação iluminada de uns poucos que pelos mais diversos caminhos chegaram a óbvia conclusão de que tudo vai de mal a pior. que o mundo está se desmanchando com a ciência e a ciência gerando dinheiro, e a ganância nos sufocando num mundo com tanta chuva. por que de um ano pra outro essas coisas parecem ganhar um valor, um preciosismo que nos distancia do mato? por que é proibido pisar na grama? de longe parece mais fácil analisar o crescimento desenfreado e despreocupado. vendo o verde sobrepujar o cinza, vendo a utopia de uma resistência e relação harmônica existente desde nosso sempre acabando aos poucos: extinções e relíquias naturais preciosas.
dentre milhões de buzinas tocando numa dissonância irritante e viciada, a fina flor da intelectualidade contemporânea, após vidas de estímulação mental, concebe audaciosos projetos de lucros inimagináveis pro avanço, leia-se econômico - porque o tal desenvolvimento sustentável vira uma outra bandeira para o povão, um novo sorriso pra multinacional.

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