pra varrer a opacidade do cômodo, da manhã, e do silêncio, num gesto gingado e viciado, achou com o pé o botão vermelho do som, que chiava: ...um menino cresceu entre o afã e a curva, entre a carne e a ficha... subindo em pedreiras ‘quiném’ lagartixa... boréu, juramento, urubu, catacumba, nas rodas de samba, beirando a macumba... o dia clareou, o galo já de longe cantou, é hora... vou ter que trabalhar... não posso mais sonhar... a cama está desfeita mas eu não dormi... não posso mais sonhar... mas só até as dez... só até as dez... e o desatino invejoso do rádio: quem não inveja a infeliz, feliz, no seu mundo de cetim, assim, debochando da dor, do pecado, do tempo perdido, do jogo acabado... bandeiras se desmanchando...
terça-feira, 16 de junho de 2009
segunda-feira, 8 de junho de 2009
e os vegetais
contava um, quarto, dois, cozinha, três, quatro, e descia. e inalava forte o hálito viciado da garagem, ainda no gosto do café, e, na tontura sonolenta de imaginações espontâneas empurrava a porta e saía, como um gás que se desprende. na frente da casa parava por uns três minutos, compactuando com a mudez de todas as manhãs e dos vegetais. aqui, no translúcido manto de calma sobre o claustro dos quintais.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
foto
eu ia bater a foto, mas, de repente, não era eu, não ali, batendo aquela foto. sem mergulhar fundo demais nessa viagem apertava o botão e a máquina indicava qualquer coisa que eu não entendia mais. sem saber onde andava a foto, que eu via, congelada na minha frente, desliguei a máquina. depois rolou o deleite de um ensaio, revelado, que não parecia ser meu.